Se você é ou conhece algum nordestino. Porque, quase todo nordestino ama cuscuz – Principalmente se ele for de Pernambuco – sabe que uma coisa que não dá pra faltar no prato é o famoso cuscuz. Fofo, saboroso, e que dá pra comer com TUDO, além de ser atemporal.
Claro que em todo o Brasil e mundo, o prato é amado e conhecido, isso é claramente provado pelo título de Patrimônio Imaterial da Humanidade. Mas em Pernambuco, o prato é tão amado que teve indicação para obter também o título de Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado.
Eu por exemplo, como um bom nordestino nunca deixo faltar em casa, dá pra comer com coisas salgadas e doces e sempre consegue deixar tudo muito saboroso, só de pensar já da água na boca, mas, sabia que esse prato tão conhecido e amado vai muito além de apenas realmente “comida”? Pois é. O cuscuz é um símbolo de cultura e a prova da influência de outros países sob a cultura de tantos outros, como por exemplo o Brasil

A origem do cuscuz
Sabia que a origem dele é muito mais antiga e diferente do que imaginamos? Pra começar, o cuscuz surgiu no continente africano, ainda no império romano em Magrebe, e os primeiros relatos do aparecimento dessa iguaria são datados dos anos de 300 a.C. a 200 a.C. e eram originalmente preparadas com trigo, com o passar dos anos essa receita tão amada começou a ficar cada vez mais famosa e conhecida mundialmente.
Em seguida, nos anos de 972 até 1148 houve a criação do cuscuz berbere, nomeado assim pelo povo que o fazia, os Berberes, o primeiro povo a ocupar o norte africano, e no caso deles, preparavam o cuscuz com sêmola de trigo, mas que também variavam, podendo usar cevada, sorgo ou até arroz cozidos no vapor e acompanhavam pratos normalmente salgados, mas que também podiam acompanhar algo mais doce como um leite ou frutas. E ainda tivemos o cuscuz Califado Almóada em 1121-1269.

Agora, saltando um pouco mais no tempo, por volta dos anos de 1500 quando Portugal chegou ao Brasil e trouxe consigo os povos africanos e indígenas, ele também trouxe o cuscuz e a receita africana, que já era popular nas terras lusitanas, mas quando chegou ao país do pau-Brasil ele também ganhou sua versão “abrasileirada”, a que conhecemos atualmente, feito com milho e cozido no vapor.
Lugares de todo o Brasil fez e reinventou a receita do cuscuz, como por exemplo, em Minas há uma receita onde é misturada a farinha de milho com mandioca e fubá, açúcar, canela, erva-doce e queijo. Na Bahia há uma receita com inhame e farinha de mandioca. Em São Paulo com farinha de milho, tomate, pimentão, mandioca, sardinha e o que mais o cliente quiser. E muitas outras.
Cuscuz e seu titulo
Essa refeição feita de farinha de milho dominou o Brasil, e como dito pelo professor de Gastronomia Robson Lustosa “A inserção do cuscuz de milho na cultura alimentar, sobretudo do Nordeste do Brasil, foi tão intensa que o mesmo fixou-se como preparação típica e representação simbólica da alimentação dos nordestinos, que não há como se falar dos hábitos alimentares da região sem citar o famigerado cuscuz”, o amor por esse danado foi tão grande que em 2021, foi indicado como Patrimônio Cultural e Imaterial do Estado, sob a justificativa de ser uma homenagem ao prato que faz parte do cotidiano de todo Pernambucano e que já virou tradição em suas refeições.

Enquanto que o seu título de Patrimônio Imaterial da Humanidade dado pela UNESCO se deve ao seu preparo no Marrocos, Argélia, Mauritânia e Tunísia. Além de também já ser considerado como um Patrimônio cultural em muitos outros países.
Conclusão
E essa reinvenção e constante mudança que representa esse alimento – Além de claro ser uma delícia com absolutamente tudo – pois o cuscuz é um sinal e uma representação em forma de comida, de transformação cultural, ao longo de todos os seus anos de existência, cada país tem a sua receita, cada lugar por onde passa exerce uma influência diferente, tem um sabor diferente e um significado. O cuscuz é uma comida descolonizada que reproduz culturas por todo o globo, e que demonstra a influência do continente africano sob o mesmo.
Cuscuz é história, é cultura, é amor e é uma delícia.