Cordel uma viagem na cultura Nacional

A literatura de cordel, é uma herança como várias das expressões populares, e que só depois vão ganhando o sabor nacional, mas, elas têm com certeza uma fonte estrangeira que as trouxeram.

CORDEL E SUA ORIGEM

Para se ter uma ideia, a literatura de cordel chega ao Brasil através de Portugal e vem desde os primórdios da colonização.

Essa cena da literatura popular era muito comum em Portugal e de lá que vieram os famosos varais de corda de barbante, que sustentavam esses livretos com poesia, que inicialmente eram poesias oralizadas e apenas depois eram escritas em pequenas publicações, consumidas pelo povo, de maneira cotidiana e de maneira constante.

No Brasil, por outro lado, é muito diferente, para vermos esse tipo de exposição e ela sendo comumente consumida, temos que ir ao nordeste, onde vê-se com frequência ainda hoje aqueles varais cheios desses livretos da poesia do povo, da poesia dessa gente simples e extremamente verbalizante e eloquente, mesmo sem os critérios mais cheios de pudor de uma literatura mais elevada, mas, as rimas o hit, a sonoridade a canção que esses versos trazem sempre são ternura literária pra gente apreciar.

Além de que percebemos que no Nordeste, nas cidades em que esse tipo de manifestação se torna frequente, você vai observar que eles chamam muito a chamada literatura de cordel, simplesmente de folhetos.

Cordel uma viagem na cultura Nacional

CORDEL E SUAS CARACTERÍSTICAS

O importante da literatura de cordel é que ela congrega muitas formas de expressão, que servem de tema para essas elaborações, as pessoas que já viram repente e desafios, com certeza sabem que é nesse universo de criação que são trabalhados importantes ícones folclóricos como:

  • Adivinhas;
  • Parlendas;
  • Trava-línguas;
  • Ditados populares;

Essas imagens estão sempre aparecendo como ferramentas para a composição de cordéis, e esse cenário de composição é que vem o manifesto pelo exercício poético do povo, muitas vezes foi produzido por gente que nem é letrada, e é por isso que temos que destacar a origem na oralidade.

Mas costumeiramente elas são escritas e editadas em pequenos livretos e colocados em painéis com barbante, deixando expostos para que todos ali vejam, sendo consumidos com uma frequência incrível.

Há uma série de realidades que derivam desse tipo de hábito poético, como por exemplo o repente que citamos anteriormente que podem ser definidos simplesmente como um improviso cantado normalmente feito por dois cantores, esses repentes podem ser utilizados nas pelejas, nos desafios entre os violeiros e tem até uma canção do Djavan chamada “violeiros” do álbum Coisa de acender que belamente registra esse comportamento poético do povo nordestino.

Podemos ainda falar de como o uso do repente além de estar presente nos desafios de violeiros, também pode ser identificado nos chamados partido alto que é um desafio semelhante, mas feito na esfera do samba, e ainda as batalhas de rap, tudo isso nasce desse hábito de confronto de duas vozes poéticas, improvisando poesia e conseguindo apresentar esse trabalho vistoso que pertence à cultura do povo.

EXEMPLO

Para exemplificação do cordelista, vamos ver o trabalho de dois autores, o Raul e o Bastinha job, que se chama “O Poeta em Versos faz Desenhos Maravilhosos”, onde vai ser um desafio entre os autores, e que por meio disto, ambos vão desenvolver a poesia.

O texto é um pouco extenso, por isso vamos destacar duas falas dessa obra, que mostram esse confronto e o desenvolvimento dos autores:

“Quem é poeta descreve tudo com palavras vivas pois várias alternativas ele escolha para si, e deve ser firme porque se atreve a nadar em rios caudalosos trilhar caminhos saudosos sem poder voltar atrás. O poeta em versos faz, desenhos maravilhosos”





Raul

“Quem tem a veia poética sente o mundo mais feliz e todo poeta diz, com muito estilo, com ética que a poesia estética cria versos primorosos, pelejas, cordéis famosos, ritmo gostoso demais. O poeta em versos faz, desenhos maravilhosos”

Bastinha job

Nisso, podemos ir percebendo que como refrão, há essa menção do mote – O tema que vai ser desenvolvido pelos poetas – e cada um vai dentro desse motivador de composição, apresentando sua perspectiva poética.

CONCLUSÃO

E é assim de uma forma singela e muitas vezes de peleja, porém deliciosa, que essa cultura vai se desvendando para nós, mostrando a tradição, cultura e beleza que as palavras podem carregar consigo.

Sempre que visitar o nordeste do Brasil lembrem-se desse artigo, da existência da arte da cultura dos cordéis, vivencie por si próprio/própria a experiência de ler a poesia de um cordel, de consumir essa cultura. Com certeza não vai se arrepender!